Mayra Andrade tem suas origens em Cabo Verde, nasceu em Cuba, mora em Paris e fala mais de quatro línguas. Sua música é um espelho da sua diversa vivência e conexões multiculturais. No seu primeiro álbum “Navega” ela deu espaço para a música de Cabo Verde e nos contou as histórias do povo da sua terra. O mundo a descobriu, se apaixonou, enquanto ela foi estendendo suas fronteiras.
Tendo a música caboverdiana sempre como guia, Mayra claramente flerta mais com o pop nesse álbum. Canções como “We Used to Call it Love” e “Build it Up” se entremeiam com outras em francês (Les mots d’amour) e em português (Farol). Mas é no crioulo que a melancolia rouca da sua voz fala mais alto.
A voz de Mayra lembra uma morna brisa de verão que a qualquer momento pode mudar e provocar arrepios. Ao vivo, ela tem oportunidade de mostrar outras facetas da sua lânguida voz. Ela nos presenteia com a energia dos ritmos africanos, o charme vintage das chansons, melancólicos blues e tocantes baladas.
Até posso entender que alguns digam que há uma perda de foco no repertório, mas a maneira como ela toma as canções para si cria uma uniformidade. Durante todo o show, em nenhum momento senti uma descontinuidade. Ela tomou posse de cada composição e imprimiu a sua marca.
Se fosse procurar um ponto para criticar, acho que falta um pouco de verve, de explosão. No entanto, Mayra é uma diva suave que, com muita naturalidade e simpatia, domina o palco, encanta e interage com o público. Que esteve no LantarenVenter comprovou que essa jovem veterana, muitas vezes comparada com Cesaria Evora, é uma artista singular e que transcende o rótulo da World Music.
Fotos: Ron Beenen Fotografie
Mayra Andrade apresentou o seu novo álbum “Lovely Difficult” no Lantarenvenster em Roterdã. Uma dessas combinações perfeitas: uma casa que prima pela boa música, com uma das mais talentosas vozes femininas do momento.