Bailandesa

De mãos dadas, sim senhor!

Umas das coisas que mais me fazem sentir como uma buitenlander (estrangeira) aqui é o meu hábito de andar de mãos dadas. É mais fácil achar um camelo nas ruas daqui do que um casal andando de mãos dadas. Você vê pessoas com celulares, ipods, compras e flores nas mãos, exceto a mão de outra pessoa. Dar as mãos e caminhar juntos pode significar muito mais do que romantismo; expressa carinho, afeto, proteção e sim, intimidade. Mas entendo que o fato de andar juntos, mão com mão nas ruas, torna a intimidade pública e isso pode causar desconforto num país onde a vida privada é protegida ao extremo.

Lembro ter visto em Amsterdam casais gays de mãos dadas, mas não lembro de ter visto casais hetero. Acredito que seja um sinal de que, mais e mais, eles se sentem livres em demonstrar os seus sentimentos e afirmar em público a sua sexualidade. Vi casais hetero se beijando, mas não dando as mãos ao caminharem juntos. Talvez beijo na boca seja menos íntimo que andar de mão dadas. Um outro ponto é que o fato de dar a mão a alguém na rua é uma declaração explícita de comprometimento. Sabe aquela cena em que numa festa uma sirigaita dá aquela olhada pro seu namorado? Qual a sua primeria reação? Pega logo a mão dele. Depois você talvez abrace logo a criatura e tasque-lhe um beijo “roto rooter”, anunciando: É meu! Mas a primeira reação é dar a mão.

Ok, se você está no Saara no Rio de Janeiro ou no centro de New York, é praticamente impossível andar de mão de dadas. Correto, mas também numa multidão, é a melhor maneira de não se perder. E se você precisa de mais argumentos pra manter o seu romântico hábito, eis aqui o melhor de todos: deu no New York Times que andar de mãos dadas faz bem à saúde. Reduz o estresse e protege contra a dor.

Lembro que quando ainda estávamos no Rio, Ron estranhou o fato de eu sempre pegar a mão dele ao caminhar. Bom, estranhou, mas gostou e mantém o hábito até hoje. Para mim, se estou na rua ao lado de quem eu gosto, é mais do que natural dar as mãos ao caminhar. Pode parece antiquado, piegas ou brega. Pode ser talvez inadequado para os padrões holandeses, mas vou avisando logo: não há inburgering (curso de integração) que me faça perder esse hábito e se puder, ainda dissemino e contamino os kaaskoppen (cabeças de queijo).

Imagem: autoria desconhecida.

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