Voo tranquilo, céu de brigadeiro e muita disposição para aproveitar as últimas duas semanas na Boa Terra. Nunca tive medo de aviao. Parece que nasci pra andar naquele tubo metálico de rabo e asas que rasga os céus sem parcimônia e faz esse mundo ficar menorzinho.
A comissária jogou uns amendoinzinhos na mesinha, enquanto não desgrudava do meu livro. Conversava de vez em quando com (na)marido. Comentávamos como tinham sido especiais os últimos dias no Rio e como as férias em geral pareciam perfeitas. Lá embaixo, já via as luzinhas soteropolitanas piscando pra nós e o mar nos dando as boas vindas. Enquanto brincávamos de adivinhar os lugares da cidade lá do alto, o avião seguia seu curso em velocidade de cruzeiro.
Sentados na segunda fila, esperávamos o momento do pouso. Já sentia o gostinho do acarajé e o cheiro de Salvador. Sim, para mim cada cidade tem um cheiro próprio. Faz parte da identidade de cada local.
O Pouso
Trens de pouso a postos. De repente um enorme estrondo e uma pancada muito forte. Cheguei a duvidar se os trens de pouso realmente tinham descido. O avião dá uma sambadinha, toca de novo o chão com força e arremete. Me senti num lançamento de foguete. O avião fazia um esforço tremendo para voltar para os céus. E eu pensava: É agora que eu vou pro céu?
Silêncio total. No avião e entre nós. Eu e o (na)marido de mãos dadas, nos olhávamos e não falávamos nada. Enquanto o filminho da minha vida começava a passar na cabeça. A minha mão gelada e suada apertava a dele. As nossas mãos estavam apoiadas no joelho dele que tremia nervosamente.
Será que vai ser agora?
Em filmes de desastres de avião, vemos pânico, despedidas românticas e desesperadas. No nosso caso, nada. O silêncio sepulcral só foi interrompido, pela senhora sentada à frente que desesperadamente queria saber se o avião tinha levantado voo novamente. Expliquei que sim e que ela deveria manter a sua poltrona em posição vertical. Apenas nos olhávamos. Tinha a impressão que os nossos olhos emitiam sons: será que vai ser agora? mas ainda há tanta coisa pra fazer, pra ver?
Quase hein!
O piloto finalmente resolve dá um esclarecimento e diz que devido a um pouso desestabilizado tiveram que arremeter. O avião sobrevou Salvador novamente. Dessa vez, as luzes não me pareciam tão acolhedoras. Na segunda tentativa, muita expectativa, mas o avião conseguiu pousar. Detalhe: o comandante sai apressadamente da cabine e fala, não sei se pra nós ou pra tripulação: – Quase, hein?!
Todos saíram do avião e não tivemos mais explicações. Mas fiquei com um gosto ruim na boca que trago até hoje. A tão longínqua e improvável possibilidade de um acidente de avião chegou mais perto de mim. Não que tenha desenvolvido uma fobia ou que isso atrapalhará as minhas viagens. Mas minha vida de passageira mudou. Jamais estarei relaxada como antes num pouso. Hoje já posso dizer: tive medo de avião um dia.
Dias depois…..
Depois de termos chegado na Holanda e colocado as coisas em ordem, recebo um email de alguém, que via outra pessoa que conhecia alguém que trabalhava na mesma companhia aérea, soube de mais detalhes do quase acidente. Segundo essa versão, a copilota cometeu um erro na manobra, o avião bateu com a cauda no chão e o comandante teve que intervir com urgência. A copilota foi suspensa e o avião voltou para São Paulo para revisão. Ou seja, o comandante tinha razão: foi quase mesmo.
8 comments
Gente, que história terrível. Nunca passei por um apuro assim num voo. Acho que é realmente algo que tira o tesão, né?
E o “quase” do comandante? Horrível. São muitas vidas em jogo para um comentário tão bobo.
Te desejo mais sorte nos próximos voos!
Beijo :*
Obrigada Rapha! Foi uma situação horrível mesmo e o momento era tão bom. Melhor viagem ao Brasil que já fiz, desde que moro aqui na Holanda. Enfim, desejo ótimos voo pra todos nós!
Obrigada pela visita e volte mais vezes!
Ai que horror!
Eu passei por uma situação dessas num vôo Poa-SP! Estava tudo super tranquilo e quando o avião começou a descer para pousar tivemos uma turbulência horrível, tão feia que a porta da cabine de comando abriu e os compartimentos de cima abriram também.
Só que no meu vôo houve desespero geral, tinha gente gritando. Eu comecei a chorar na hora e peguei a mão da menina que estava ao meu lado.
E eu levo esse trauma até hoje, uma pena 🙁
Que nossos voos sejam melhores!
Beijo.
POis é Amanda. Que tenhamos voos melhores. Por mais que ouçamos as histórias por aí, nunca pensamos que vai acontecer com a gente, não é mesmo?
Obrigada e volte sempre
Olá Clarissa,
Posso imaginar a angustia que vcs passaram. Por mais que digam e que saibamos que voar é o meio de transporte mais seguro que existe, dá medo qdo algo sai do contrôle. Seria muito bom se Holanda fosse mais pertinho do Brasil e pudessemos ir de trem de vez em qdo, só para variar…
Um abraço!!
Pois é, Sheila. Isso seria muito bom mesmo. Adoro viajar de trem. Vamos costurar as bordas desse Oceano Atlântico e fazer um ferrovia 🙂
Um abraço e volte sempre!
Uffffffa… passei por isso saindo de Paris no começo do ano, só de saber que voltaria de Air France já não curti muita a ideia… mas, vamos q vamos….
A decolagem foi tranquila, mas 15 minutos após a mesma, a aeronova en tra numa forte turbulência, até aí nenhuma novidade, já haviamos passado por isso, entretanto, de repente, do nada, o avião num curtíssimo espaço de tempo, digamos uns 10 segundos (o que pode ser uma eternidade lá nas alturas), despenca em queda livre, foram os piores 10 segundos de toda um vida…. pensei em minha filha que estava no Brasil, passou tudo pela minha cabeça. Então do nada, o avião volta ao curso normal da viagem, ninguém disse nada, ninguém nos explicou o que havia acontecido; já no Rio perguntei a comissária o que havia ocorrido, ela não soube explicar, disse que iria perguntar o comandante…. até hoje estou esperando a resposta… rs
Então, Marcus, você sabe pelo que passei. Segundos viram eternidade em momentos como esse, como você disse. O negócio é pensar positivo e seguir viajando.
Volte sempre!