Bailandesa

Não querem que eu volte

Os holandeses estão mais felizes. E isso é fato. Fato comprovado pelo Social en Cultureel Plan Bureau (SCP) em pesquisa que é divulgada a cada dois anos e que abrange temas como clima político, tendências em educação, emprego, saúde, segurança e lazer.

Este ano, de uma forma geral o relatório SCP traz boas notícias. A sociedade holandesa está mais satisfeita com o governo, considera o seu estilo de vida saudável e a grande maioria considera-se feliz (82%). Mas pesquisa sem números não tem graça, não é mesmo? Vamos a alguns deles:







OK, então podemos afirmar que escolhemos um paraíso para morar? A resposta é negativa. Na questão da imigração ainda há muito por fazer e muitas ameaças à espreita. Enquanto o país se proclama como uma sociedade multicultural e tolerante, 40% comprovam que a tolerância tem limites. Esse número ainda é alto. A existência (e insistência) de partidos políticos que defendem abertamente a sua posição anti-imigração são uma prova de que este é um assunto que divide a sociedade (quase que) ao meio. Ah, então a solução é ir pra outro país da Europa? Lamento informar que a resistência a estrangeiros registrada na Holanda encontra-se na média se comparada com a encontrada em outros países.

Aliás, falando em defender abertamente a sua opinião e em partidos políticos, a liberdade de expressão, desde 2004, vem sendo considerada por 55% dos entrevistados o objetivo político mais relevante. Antes o assunto ficava para 45% da sociedade entre os cinco mais importantes. E instituições como partidos políticos, igrejas e outras organizações encontram cada vez mais dificuldades em manter o seu quadro de associados ou colaboradores. 16% dos holandeses querem mais tempo livre e desde 2005, gastam em média menos 3 horas em atividades extras, sejam domésticas ou não.

Sim, o relatório SCP não deixa dúvidas de que a percepção das pessoas é que a vida aqui no pindorama laticínio está melhor e o que o povo mostra sinais de recuperação após o choque dos assassinatos de Theo Van Gogh e Pim Fortuyn. O indíce de satisfação é claro, varia e é mais baixo entre os grupos mais pobres, com educação de nível mais baixo, estrangeiros de origem não-ocidental, desempregados, dentre outros.

Após ler essa pesquisa, abri alguns sites da imprensa brasileira e li sobre a absolvição de Renan Calheiros – após uma vergonhosa sessão secreta -, proposta de fechar o Senado, queimadas no Pantanal, uma mulher grávida que teve que percorrer 320 km para ter os seus filhos gêmeos e algumas parcas boas notícias sobre o aumento da renda do brasileiro em 9% e a diminuição do número de miseráveis no país. Me pergunto qual seria o resultado de uma pesquisa dessas no nosso amado país verde e amarelo. Talvez até me surpreendesse, mas por enquanto, tudo só me faz lembrar de Jô Soares no papel de um exilado político que dizia: “não querem que eu volte”.

Imagem: brazilbrazil.com

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