As mulheres estão mais independentes na Holanda. Isso é o que constata o Monitor da Emancipação do CBS (Instituto Central de Estatísticas da Holanda). Mas o passo é lento e a situação de homens e mulheres ainda é desigual. Desde 2000, o monitor é publicado a cada dois anos e a conclusão é que a situação melhorou, mas ainda há muito a ser conquistado.
Mais mulheres no mercado de trabalho
Mais mulheres participaram do mercado de trabalho na Holanda. 77% das mulheres (excluindo estudantes) tinham um emprego remunerado na Holanda em 2021. Enquanto que 87% dos homens participavam ativamente do mercado de trabalho. O dado interessante aqui é que vemos um contínuo crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho. Ano após ano, vemos uma tendência de mais mulheres trabalharem.
Holanda campeã do trabalho part-time
Enquanto a participação de homens e mulheres no mercado de trabalho é alta em comparação com outros países europeus (3o do ranking), a Holanda também é campeã do trabalho em período parcial. Cerca de 20% dos homens trabalhavam em tempo parcial em 2021. Enquanto que 70% das mulheres não trabalham em período integral.
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Mais mulheres independentes financeiramente
Em 2021, dois terços de todas as mulheres (excluindo estudantes e aposentadas) foram consideradas economicamente independentes. Mas é bom ressaltar que o critério é de 1080 euros líquidos por mês. Ou seja, pelo menos o nível para receber do governo uma assistência social ou benefício. O que não reflete uma verdadeira independência financeira.
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Os números revelam um avanço em relação ao último monitor. No entanto, vemos que ainda há diferenças. Enquanto 66% das mulheres foram consideradas independentes, o percentual para os homens é de 81%.
E por que a diferença continua?
Basicamente por dois fatores: o primeiro é que homens trabalham mais em período integral. O segundo é que os homens continuam ganhando mais do que as mulheres. A diferença salarial entre homens e mulheres é maior na Holanda do que na maioria dos outros países da UE. Apesar da redução da diferença, especialmente no setor público.
Trabalho remunerado não significa independência
É interessante ver que um terço das mulheres que aparecem como não economicamente independentes no monitor, tinham trabalho remunerado. Isso significa que, apesar de trabalharem, ganhavam menos do que o suficiente para se sustentar. E aí a gente se pergunta: como assim? Mais uma vez, voltamos à questão da quantidade de horas trabalhadas ou o valor/hora trabalhada. 47% delas recebiam benefícios do governo e 21% não tinham renda alguma. Já dos homens (27%) que aparecem como economicamente não independentes 64% recebiam benefícios.
Mulher Independente. Desde que seja preciso
Enquanto a Holanda tem uma imagem de sociedade moderna, o que se vê é que os papéis esperados de homens e mulheres não diferem muito dos tradicionais. Existem avanços. Mais e mais mulheres se qualificam, o que contribui para melhores salários. No entanto, quando elas têm filhos, a questão cultural fala mais alto. É esperado que as mulheres trabalhem menos dias quando têm filhos. Uma média de 2 a 3 dias. E muitas delas continuam trabalhando part-time depois que os filhos crescem. Enquanto isso, os homens trabalham em média de quatro ou cinco dias por semana.
Segundo a CBS, a diferença é menor entre os mais jovens. Mas a chegada dos filhos, se torna um ponto de virada na carreira das mães. E aí, o conforto da renda familiar – quando suficiente, pode se tornar uma armadilha, no caso de divórcio ou separação. Porque aí, as mulheres se tornam vulneráveis por não contarem mais com a renda dos maridos. E isso, muiytas vezes se agrava quando se trata de mulheres imigrantes que enfrentam a dificuldade da língua e recolocação no mercado de trabalho.
Será que o problema está no trabalho parcial?
Num mercado de trabalho com uma enorme falta de mão-de-obra, o trabalho part-time vem sendo alvo de análises e críticas nos últimos meses. Mas o problema não está no trabalho parcial em si, mas sim, na expectativa de que seja a mulher quem vai abrir mão da carreira para cuidar dos filhos. E isso é uma questão cultural, mas também financeira. Para isso mudar, o trabalho em período integral tem que compensar em termos de perda de benefícios, auxílio creche e impostos. E claro, em qualidade de vida.