Sempre que me perguntam o que mais gosto de viver na Holanda. Sem pensar, digo: liberdade. A liberdade de ser quem sou, de vestir o que quero e de falar o que acredito. Hoje, 5 de maio, a Holanda celebra a liberdade.
Ter um dia para celebrar a liberdade sempre me pareceu uma coisa meio abstrata. Nunca senti a necessidade de festejar o fato de ser livre. Mas a Holanda me ensinou o contrário.
A Holanda foi ocupada e perdeu a liberdade por 5 anos
Se existe um dia para celebrar a liberdadena Holanda, é sinal de que um dia ela foi perdida. A gente valoriza o que perde. E o país perdeu muito com a ocupação nazista na 2a Guerra Mundial. O ataque nazista custou muito mais do que os 80% da cidade de Rotterdam bombardeados. Milhares de vidas foram perdidas e durante 5 anos, a Holanda perdeu a liberdade de ser a Holanda.
Assim como na 1a Guerra Mundial, a Holanda se manteve neutra. Até 10 de maio de 1940, quando foi invadida. Mas o país era apenas uma peça num jogo de tabuleiro. O objetivo era chegar na França, passando pela Bélgica e de quebra, Luxemburgo. Além disso, dificultar o acesso da Inglaterra ao continente. O maior inimigo do país foi a neutralidade. Como se declarou neutra, a Holanda não podia ter aliados como a Inglaterra e a França. Assim, quando foi invadida, pôde contar apenas com suas próprias defesas. A neutralidade lhe cobrou um preço alto.
Resistência em casa
Muitos pensam que a Holanda não resistiu. Não foi bem assim. Durante 5 dias, as defesas seguraram o que puderam, mas depois da ameaça de também bombardear Utrecht, a Holanda se rendeu. Muitos não sabem, mas a resistência continuou mesmo depois da invasão nazista. Tenho um exemplo em casa, o avô do meu marido, também fotógrafo, fez muitas fotos para passaportes falsos para judeus. Dessa forma, deve ter salvado muitas vidas. Também fez diversas fotos de Utrecht durante a guerra.
Ele foi mais um dentre os muitos que resistiram da forma que podiam – com o seu talento. Existem milhares de histórias como a dele. Homens e mulheres que lutaram pela liberdade deles e pela vida de outros silenciosamente.
Depois que vim para a Holanda, a liberdade se tornou mais concreta, quase táctil. Quando vejo a foto na parede da minha escada, lembro que ser livre não vem naturalmente como o vento ou como as ondas do mar. Ela é como uma planta que precisamos cultivar e doar mudas para que todos possam usufruir da sua beleza.