Enquanto assava rolinhos de canela no domingo, os prefeitos das 4 maiores cidades da Holanda protestavam contra o governo holandês. A razão? O adiamento do relaxamento das medidas e principalmente a abertura dos terraços dos bares e restaurantes.
Todo mundo estava esperando a abertura dos terraços em 21 de abril, mas o gabinete resolveu adiar a decisão para 28 de abril, a depender dos números. Os prefeitos expressaram seu desapontamento em um documento oficial e pediram ao governo em Haia para repensar a medida.
O dilema dos prefeitos
Os prefeitos afirmam que não têm como controlar a população. Já que em cidades mais densamente povoadas, a população precisa muito de um ar fresco. Também afirmam que ao ar livre a contaminação é mínima e que medidas de segurança podem ser tomadas. Um outro ponto é que sem a abertura de terraços de forma organizada, a população promove encontros clandestinos. Assim, temos ainda mais conflitos entre o poder local e os que insistem em não respeitar a s medidas.
Acontece que temos em 27 de abril, o Dia do Rei, que é o dia em que os holandeses soltam a franga? Aí, calço os sapatos dos prefeitos e vejo que eles têm uma missão impossível pela frente. Por outro lado, imagina a aglomeração se os terraços abrirem?
Triângulo não-amoroso
Mas isso não é uma briga de dois lados. E sim um triângulo não-amoroso entre o poder central, os prefeitos. Ainda temos o vértice dos donos de cafés e bares que há um ano estão fechados ou funcionando sobre restrições. Para esses, o gabinete dobrou o pacote de 260 milhões de euros. E e sabe quem decide quem recebe o apoio? Os prefeitos.
Diante de tantos argumentos, meus olhos e ouvidos se viram para as estatísticas. O gráfico nos mostra que em 5 de abril tínhamos cerca de 5 mil casos. Ontem, 11 de abril, mais de 8 mil . Os hospitais e as unidades de terapia intensiva ainda estão com um nível alto de ocupação. Para mim, a situação é clara: os números nos mostram que ainda não podemos relaxar as medidas. Mas a pressão da população está imensa. E há quem defenda o menor dos danos: abrem-se os terraços de forma organizada ( se é que é possível).
Na verdade, estamos como um cachorro correndo atrás do rabo. Se não respeitamos as regras de controle, a contaminação aumenta, se a contaminação aumenta, temos que ficar em casa. Aí nos revoltamos e quebramos as regras e tudo recomeça.
Olha, eu também estou de saco cheio e quero sair, ir ao um show, sentar ao sol num terraço. Mas enquanto asso meus rolinhos de canela, existem profissionais de saúde exaustos nos hospitais e em casas de reabilitação. E o Rei e sua família continuam muito bem, obrigada! O estresse dos prefeitos se deve unicamente a falta de solidariedade de uma parcela da população. Então vemos que o triângulo se torna um quadrilátero. E para resolver esse problema geométrico, só precisamos colocar perspectiva na discussão, esperar pelos resultados dos eventos-teste que estão acontecendo e voltar ao “novo normal” com segurança. Até esse momento, só temos uma coisa a fazer, ficar o máximo em casa e levantar os olhos além do próprio umbigo.